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Precisamos de advogados empreendedores

Felipe Asensi

Felipe Asensi

30/06/2016

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As faculdades de direito já discutem que o direito tem que ser pensado de maneira interdisciplinar, que o direito vai além da norma jurídica e que somente olhando para a realidade social é que se compreende como o direito funciona.

Eu diria que isso é importante e não podemos ignorar este debate, mas temos que ir além. Assim como é relevante discutir o modo como se deve pensar o direito, não se pode deixar de lado uma dimensão importante da atuação de quem se forma: a capacidade de advogar profissionalmente e de maneira empreendedora.

Aprende-se nas faculdades de direito que existe a opção das carreiras públicas ou a opção da advocacia privada em que o estudante será contratado por um escritório, mas não se aprende a abrir, gerir, liderar, representar e planejar a atividade de advogado como um empreendedor. O empreendedorismo diz respeito ao ato de criar ou desenvolver um negócio que tenha chance de sucesso. Trata-se de uma atitude voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à criação de um projeto sustentável e inovador para a abertura de um escritório de advocacia ou o desenvolvimento de um aplicativo de celular, por exemplo.

Nas faculdades, nada se discute sobre gestão de escritórios, precificação, marketing, planejamento estratégico, negociação ou finanças. Formamos técnicos do direito com opções limitadíssimas de inserção sustentável na advocacia. Faculdades não formam advogados inovadores ou empreendedores, mas advogados reprodutores do que é posto pela lei, pela doutrina ou pela jurisprudência.

Por consequência, as faculdades também não fortalecem qualquer atitude empreendedora. Em regra, reforçam o estereótipo de que o destino do estudante são as carreiras públicas ou a atuação como pseudo-sócio de um escritório de advocacia pelo fato de deter 0,00001% das cotas. Há ainda aquelas que criam verdadeiros exércitos de advogados audiencistas sub-remunerados.

Os elementos importantes de uma atitude empreendedora, tais como a vontade de superação, o pensamento estratégico, o foco em metas e a tolerância ao risco são importantes para qualquer advogado, mas estão longe de serem desenvolvidos, praticados e estimulados no ensino e no mercado do direito. Não é por acaso que há muitos advogados fazendo a mesma coisa, pois encontram-se limitados às parcas opções que as faculdades de direito lhes ofereceram e fizeram acreditar que seriam as únicas. Os que se destacam são aqueles que viram algo mais, que se incomodaram com o pouco que receberam em termos de ensino, e desenvolveram por si sós uma atitude empreendedora.

O fato é que o mercado é bastante concorrido, mas ele não é concorrido em todas as áreas. Muitos advogados fazem a mesma coisa, apresentam seus serviços da mesma forma e não praticam qualquer atividade de diferenciação. Porém, há advogados empreendedores que desbravaram, por exemplo, áreas de petróleo e gás no passado, assim como atualmente há exemplos na área de tecnologia ou de direito econômico e em tantas outras áreas.

Não é por acaso que as inovações jurídicas são lentas no Brasil. As nossas feiras de ciências da escola preocupam-se em fazer cartazes e em reproduzir algo. Em outros países, buscam provocar que o aluno construa algo, chegando até mesmo a construir robôs.

Esta passividade intelectual diante do conhecimento inibiu vertiginosamente a capacidade de ser um empreendedor, inclusive no direito. Isto porque o empreendedor opera com informações limitadas e tem uma inquietude diante do que está posto. O empreendedor aceita a existência de riscos, mas calcula e planeja adequadamente para minimizá-los. O empreendedor busca grandes resultados para a sua vida e não se contenta em fazer o “arroz com feijão”. O empreendedor é comprometido com resultados e sabe valorizar o trabalho em equipe.

Tratam-se de características incomuns em muitas pessoas, mas no cenário jurídico brasileiro isto é ainda mais acentuado. Em determinados campos do conhecimento, a faculdade é um momento de ruptura com o ensino reprodutor da escola. No direito, em muitos casos, é uma continuidade.

De fato, chegamos a um momento de saturação do mercado e do direito tão grande, que cada vez mais precisamos de advogados empreendedores. Caso contrário, em matéria de advocacia, permaneceremos como “expositores de cartazes numa feira de ciências”.

Fonte: Jota


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