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José Osmir Fiorelli

José Osmir Fiorelli

04/10/2017

Os conflitos interpessoais apresentam aspectos positivos e negativos; muitas vezes, constituem a única maneira de promover mudanças benéficas para todos os envolvidos. Em outras ocasiões, apenas consomem energias preciosas.

Um mesmo tipo de mudança conduz a conflitos de diferentes naturezas, dependendo das características dos envolvidos. É comum que aquilo que um percebe como altamente desvantajoso, represente  extraordinária oportunidade para outro.

O conflito, muitas vezes, constitui a única forma de restaurar o funcionamento de um sistema doente, que se estagnou, isolou-se do mundo e entrou em colapso.

Ele pode ser, também, uma espécie de rito de passagem, por meio do qual o sistema alcança um novo estágio, conforme sugere a Teoria dos Ciclos Vitais, segundo a qual, a evolução dos sistemas passa por etapas marcantes, em que se processam profundas revisões dos seus mecanismos de funcionamento.

Exemplo típico constitui a entrada de um filho ou filha na adolescência.

Alguns pais a percebem como o risco de destruição dos valores da família, a perda da identidade construída até ali, o aprendizado de comportamentos inadequados ou nocivos, a ameaça da drogadição – sem contar os possíveis efeitos da perda da virgindade. Chegam a designar seus filhos por “aborrecentes”…

Para outros, entretanto, a adolescência constitui o período fantástico em que o filho ou filha prepara-se para assumir responsabilidades de adulto.

É quando ele ou ela descobre novas amizades, decide os passos que dará em sua formação superior, cria novas perspectivas de vida e, ao final, coroa seus esforços com a maioridade legal e real.

Os benefícios, contudo, podem ser ainda maiores: um(a) adolescente pode representar a última oportunidade para alguns pais de enxergar o mundo de uma nova maneira; dominados por visões ultrapassadas, precisam de um acontecimento radical que os estimule a rever seus conceitos.

Os conflitos da adolescência acontecerão nesses dois tipos de famílias; na primeira, serão encarados de uma forma; na segunda, de outra radicalmente oposta.

Nas Organizações algo semelhante também acontece. Empresas, clubes, entidades dos mais diversos tipos, entram em estado de deterioração ou estagnação e seus integrantes não o percebem. De repente, surge um novo gestor, ou uma nova Organização se dispõe a absorver aquela por motivos estratégicos e o conflito que advém constitui a preliminar de um renascimento corporativo.

Antigos diretores são afastados, os executivos se reciclam, o pessoal recebe novos treinamentos, ocorrem contratações e demissões, … e a Organização que agonizava ressurge –  até mesmo com novo nome e outros objetivos.

Aquilo que poderia representar a destruição de um patrimônio ou o fim das tradições cuidadosamente preservadas pelos sócios e pela diretoria, constitui a redenção salvadora da instituição. A transfusão de sangue pode não ser indolor, mas o novo oxigênio ressuscita.

Obviamente, poderia acontecer o oposto: a Organização agonizante protagoniza um final melancólico, para sofrimento de todos os que dela participavam.

Entre possíveis vantagens ou desvantagens de um conflito, encontram-se (adaptado de A. F. Acland, Cómo utilizar La mediación para resolver conflictos em las organizaciones. Barcelona: Paidós, pg. 71-72, 1993):

– produzir as mudanças que lhe deram origem;

Os conflitos da adolescência são essenciais para que ela aconteça; a protelação apenas retarda a entrada na idade adulta.

As mudanças tecnológicas são indispensáveis; a demora apenas aumenta a obsolescência.

– gerar novas ideias;

A mudança produz situações que não se ajustam às idéias já existentes; novas idéias devem ser desenvolvidas para lidar com elas, ampliando-se conhecimentos e visão de mundo.

– avaliar as ideias existentes;

O confronto com as novas idéias faz com que as existentes sejam contestadas e, eventualmente, substituídas ou modificadas.

– comprovar a coesão do grupo;

A mudança introduz questionamentos e diferentes condições de funcionamento para os envolvidos, dá oportunidades a novas lideranças, novos relacionamentos e exige revisão dos elementos de coesão e existência do grupo.

– revelar diferentes interesses do indivíduo e de grupos;

A mudança promove a revisão de interesses face às novas condições que introduz no ambiente familiar, organizacional, comunitário ou em toda a sociedade. De repente, as pessoas dão-se conta de que antigos interesses tornam-se inadequados ou superados e novas expectativas aparecem.

– explorar personalidades;

A mudança produz novos componentes, valores e condições no sistema, exige comportamentos diferentes dos atuais, faz com que se revelem facetas  inexploradas de suas personalidades – do medo do desconhecido ao prazer de explorá-lo.

– aprender coisas a respeito dos outros;

O desafio de adaptação faz com que cada pessoa obrigue-se a (re)conhecer a capacidade e a forma de reação das demais, muitas vezes surpreendentes.

– estabelecer e comprovar os limites entre o possível e o não possível.

Somente a mudança testa a extensão com que os valores, as regras, as tradições estabelecidas condicionam e dirigem os comportamentos.

– permitir que as pessoas expressem sentimentos fortes;

Sentimentos que permaneceriam ocultos encontram espaço e momento para manifestar-se, impulsionados pelas emoções presentes no conflito; muitas vezes, o conflito sepulta tabus;

– descobrir como pensam os demais;

A regularidade do cotidiano favorece comportamentos que dissimulam pensamentos e desejos; o conflito expõe, porque rompe com o estabelecido; o caráter não se manifesta nas horas boas, mas nas horas ruins.

– revelar (e, eventualmente, exorcizar ou fortalecer) temores;

O desconhecido aflora. Muitas vezes, o diabo não se apresenta tão feio quanto se pinta, porém, há ocasiões em que ele se mostra ainda pior….

– criar dependência mútua.

Aprende-se em quem se pode ou se deve confiar (e, também, em quem não se deve confiar).

Qualquer um desses itens pode ser considerado uma vantagem ou uma desvantagem. As pessoas que o vivenciam determinam se o conflito (ou a mudança que o origina) será percebido como oportunidade ou não.

Essa compreensão é vital para orientar as pessoas que lidam com os conflitos (por exemplo, o mediador, o advogado, o psicólogo, o sociólogo), para que não se deixem contaminar pelas emoções negativas (e positivas) que os envolvidos manifestarão.

Essa isenção lhes permitirá um olhar crítico e abrangente a respeito das conseqüências de transformações temidas ou desejadas.


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