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A preparação: um roteiro para quem pretende estudar fora do país

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Luiz Dellore

Luiz Dellore

15/03/2021

Muita gente que lê os textos desta coluna “Estudar Fora” fica com vontade de ter a sua experiência acadêmica no exterior. E ficamos grato que seja assim, pois esse é exatamente nosso objetivo!

Porém, muitos leitores apontam a dificuldade que é efetivamente seguir com esse projeto adiante. Se você se enquadra nessa situação, o presente texto é para você!

Os Prof. Jordão e Felipe apresentam o “caminho das pedras”, explicando o que deve ser feito para se atingir esse objetivo. Assim, boa leitura, prepare-se e, passada a pandemia, boa viagem!

Dellore


*por Felipe Frank e Jordão Violion

Desde que viemos estudar nos Estados Unidos, várias pessoas nos perguntam o que é preciso fazer para estudar fora. O texto de hoje tenta responder a essa pergunta de forma direta e objetiva. Eis o mapa do percurso.

Simplesmente comece

Tudo começa com um bom planejamento. Desde a seleção de universidades às quais você pretende candidatar-se, passando pela análise das exigências de cada uma delas, pelo planejamento de como cumprir esses requisitos e terminando com a candidatura com uma boa margem de antecedência.

Na prática, é claro que nem sempre as coisas funcionam assim, tão bem. É comum que muita coisa dê errado no meio do caminho. Uma licença negada, um visto recusado, uma bolsa perdida ou uma alta no dólar são barreiras por vezes intransponíveis. Até mesmo boas notícias podem embolar o meio de campo: uma promoção no escritório, uma causa promissora ou uma gravidez inesperada são motivos comuns para adiar os planos.

Como nem tudo sai como o planejado, a gente sempre pensa que fará melhor daqui um ano. Mas a verdade é que, se estudar fora não for a sua prioridade, um ano se passará e você não terá submetido sua candidatura a nenhuma universidade. Dito isso, começamos pela lição mais importante: independentemente do quanto você acha que precisa melhorar, o importante é inscrever-se logo! Se você decidiu que quer estudar fora, não procrastine. A inspiração é inversamente proporcional ao tempo que temos disponível para fazer algo.

Enquadre-se num programa

Tomado o primeiro passo rumo à terra do Tio Sam, é preciso saber a qual programa candidatar-se. O J.D. corresponde à graduação em direito. Dura três anos e é recomendado para quem já fez outra faculdade. Isso porque, nos Estados Unidos, é preciso ser bacharel em outra área antes de cursar direito. Em terras americanas, ser advogado exige alto investimento, mas as promessas de retorno são sedutoras. Em 2019, o salário médio inicial de um advogado júnior ficou em aproximadamente US$ 200 mil por ano, cerca de US$ 20 mil a mais do que a média anual de um juiz americano.

Se, porém, você já é bacharel em direito no Brasil, você pode partir direto para um LL.M., que corresponde para nós ao título de mestre. Nos Estados Unidos, o LL.M. é exigido na maioria dos estados para que estrangeiros possam se habilitar para fazer o Bar Exam – o equivalente ao exame de ordem. O LL.M. dura apenas um ano e abre inúmeras portas. Nas faculdades mais concorridas, não é raro ver grandes escritórios atrás de estrangeiros que falam espanhol ou mesmo português para contratá-los para trabalhar em Nova Iorque com direito empresarial. Ou na Flórida, com direito da imigração. Além disso, o LL.M. abre inúmeras portas no serviço público, em ONGs e empresas que desejam contratar estrangeiros para trabalhar internamente com questões estratégicas. Por fim, é importante dizer que se você quer seguir uma carreira acadêmica, o LL.M. é também uma boa porta de entrada, pois te coloca em contato direto com o seu possível orientador e conta como uma grande vantagem curricular na disputa por uma vaga no doutorado em direito (SJDou JSD).

Caso você já esteja cursando mestrado ou doutorado no Brasil, os programas de visiting researchers são uma excelente oportunidade para desenvolver sua pesquisa junto a um professor americano. Embora esses programas não confiram um título ao pesquisador, eles também abrem inúmeras portas na academia. Tanto pelo desenvolvimento pessoal e profissional que assegura ao pesquisador, quanto pelos contatos que ele faz no período da pesquisa. O mesmo vale para quem já terminou o doutorado e já é professor no Brasil. Nesse caso, existem dois programas: os de visiting scholars, em que o professor passa um período desenvolvendo sua pesquisa na universidade, e o de visiting fellows, em que o professor desenvolve um projeto da universidade mediante certa remuneração.

Escolha as universidades às quais pretende candidatar-se

Sabendo qual é o programa que melhor se adequa à sua realidade, é preciso escolher a universidade. Se você nem imagina por onde deve começar, saiba que, nos Estados Unidos, existe ranking para tudo. Existe ranking global, regional, matéria de especialização, taxa de empregabilidade, engajamento em determinado setor, número de publicações, impacto social, etc. Vale a pena dar uma olhada nesses rankings para escolher, digamos, cinco ou seis faculdades que fazem sentido para sua carreira.

Caso você tenha em mente ser orientado por um professor em específico, vale mandar um e-mail para ele se apresentado e perguntando se ele teria disponibilidade para tanto (nesse caso, seja breve, escreva tudo de forma bastante objetiva em dois ou três parágrafos curtos). Como você vai conseguir o e-mail do professor? No Google, óbvio! Acredite, eles respondem e-mails e levam isso muito a sério. E se o professor não responder? Mande outro! E se ele também não responder? Bom, isso já é um sinal do quão acessível ele é…

Ainda sobre a escolha da faculdade, vale dizer que não existe sonho grande demais. Tenha uma escolha de segurança, mas jamais deixe de aplicar para as faculdades mais famosas por medo. Harvard, Yale, Stanford, Columbia, Syracuse, nenhum desses nomes pode ser maior do que o seu sonho.

Mergulhe de cabeça no processo seletivo

Escolhidos os programas, agora é hora de correr atrás dos requisitos de cada um deles. É claro que isso varia de instituição para instituição, mas, de um modo geral, eles pedem exame de proficiência em inglês (TOEFL), uma carta de motivação, um pequeno projeto de pesquisa, cartas de recomendação e currículo. Antes, porém, de explorar cada um desses pontos, é preciso dizer que quase todas as faculdades de direito dos EUA estão submetidas ao LSAC, que exige que os documentos sejam enviados com um mês de antecedência em relação ao “deadline” da faculdade. Cuidado com esse prazo. Ele pode por um ano inteiro de trabalho a perder.

Começando pelo TOEFL, a depender da sua fluência, pode valer a pena fazer um cursinho intensivo especificamente para a prova. É mais ou menos como tirar carteira de motorista: não basta saber dirigir, você precisa aprender a passar no teste. Além das aulas, vale a pena comprar o Official Guide to the Toefl Test, fornecido pela própria organização que aplica o teste. Para além desse guia, que vem junto com um simulado do exame, recomendamos os vídeos (gratuitos!) de um canal no YouTube chamado Toefl Resources.

Superada essa etapa, vem a carta de motivação. E aqui a fórmula é… não ter fórmula. Por mais clichê que isso possa parecer, o que as faculdades buscam é uma carta envolvente, que chame a atenção deles e exponha os principais pontos da trajetória do candidato e suas maiores conquistas. Para você ter uma ideia, depois de algumas tentativas frustradas de escrever uma carta de motivação decente, um de nós utilizou uma carta de amor que havia escrito para a esposa expondo como ela havia sido importante nas escolhas mais relevantes na sua vida profissional e acadêmica. Depois, conversando com os colegas que foram aprovados, verificamos os formatos são dos mais variados possíveis, o que confirma que, nesse ponto, só há uma regra: não tem regra.

University of Chicago Law School disponibilizou algumas cartas de motivação de estudantes selecionados. Mas resista à tentação de seguir uma fórmula. Leia esses exemplos apenas para ter certeza de que, quanto mais pessoal, quanto mais envolvente, quanto mais honesta, melhor a sua carta.

Se ainda assim você não conseguir escrever sua carta de motivação, vamos violar o conselho anterior. Descrever seu percurso de vida, expondo as barreiras que você teve que superar, é um bom começo. Também é importante dizer por que você escolheu o curso de direito e quais fatores levaram você a escolher a área de estudo que escolheu. Nessa descrição, é conveniente mencionar os professores que estão recomendando você e o impacto/importância do seu estágio ou do seu trabalho. Se você já tiver experiência profissional na área jurídica ou já tiver até mesmo feito mestrado ou doutorado, explore isso! Experiência e excelência acadêmica são muito valorizadas lá fora. Por fim, é importante contar por que aquela faculdade dos seus sonhos é A faculdade dos seus sonhos, por que ela faz sentido para você e para os seus projetos, como ela pode ajudar você a se tornar um agente de impacto na sociedade e quais são os seus planos para o futuro.

Algumas faculdades exigem, além da motivação pessoal, uma carta de motivação acadêmica. Embora pareça complicado, o negócio é ser objetivo. Apresente aquele problema jurídico ou social cuja busca por solução faz seus olhos brilharem. Faça isso logo na introdução e destaque a relevância desse problema para o seu país e para a ciência do direito. Exponha algumas hipóteses que você tem em mente para solucionar esse problema e, então, proponha um recorte teórico de acordo com os autores que você considera serem seus marcos teóricos. Aqui vale destacar que o bairrismo não existe só no futebol. Use e abuse dos professores “da casa” e adapte o seu projeto a cada faculdade de acordo com os trabalhos desenvolvidos por seus respectivos professores.

Passando às cartas de recomendação, que variam entre duas e cinco, a depender da instituição, tente seguir as seguintes regras. Primeiro, é preciso que a carta venha de uma pessoa proeminente, mas que tenha passado por sua vida e conheça seu trabalho ou sua pesquisa. Pode ser um professor, um chefe, seu orientador ou alguém com quem você tenha trabalhado. Segundo, é necessário que a carta seja realmente pessoal. Não adianta nada você pegar uma carta de recomendação do Papa se ela se limitar a dizer “recomendo o fulano”.

É preciso que a pessoa demonstre que te conhece, que conhece o seu trabalho, destacando com exemplos concretos características como empreendedorismo, liderança, perseverança e capacidade de realização. Como não é você que vai escrever a carta e a memória das pessoas nem sempre ajuda, quando você for pedir a carta de recomendação, é aconselhável que você o faça por e-mail, destacando nesse pedido a sua visão de quando vocês se conheceram e como aquela pessoa influenciou sua trajetória acadêmica ou profissional, tendo sido imprescindível para que você conseguisse alcançar os objetivos “x”, “y” e “z” da sua carreira. Em outras palavras, você vai refrescar a memória de quem vai escrever sua carta de recomendação sem, todavia, dizer explicitamente o que é para a pessoa escrever sobre você.

Por fim, chegamos ao currículo. Embora esse talvez seja o mais simples dos passos da aplicação, é importante que ele siga uma determinada forma, apresentando seu nome e seu endereço no topo, sua formação acadêmica, sua experiência profissional, suas publicações e suas atividades extracurriculares. Ele deve ser curto (não mais do que duas ou três páginas), objetivo e bastante claro. Nada de usar a versão em inglês do Lattes! Tamanho não é documento! Deixe apenas o que é relevante e não use artimanhas para ganhar espaço. Quanto mais condensada a informação, melhor.

Em síntese…

É isso. Sonhe, projete e realize. Não procrastine, enquadre-se num programa, selecione as Universidades e mergulhe de cabeça no processo seletivo de cada uma delas. E não tenha medo de entrar em bola dividida. Uma ou duas ou dez rejeições são normais. Você vai disputar uma vaga com gente do mundo inteiro. Mas não deixe de tentar por medo de ser rejeitado. Seus concorrentes chineses, poloneses, árabes, ucranianos, têm tanto medo de você quanto você tem deles. Suba no ringue! E não deixe ninguém dizer até onde o seu sonho deve ser sonhado.

———————-

FELIPE FRANK – academic fellow e LLM pela Universidade de Harvard; doutor e mestre em Direito pela UFPR; coordenador da pós-graduação em Direito das Famílias e Sucessões da Academia Brasileira de Direito Constitucional; sócio de Manoel Caetano Advocacia.

JORDÃO VIOLIN – Doutor e mestre em Direito Processual Civil pela UFPR. Tem LL.M. em direito norte-americano pela Syracuse University (EUA). Advogado e professor dos cursos de graduação e pós-graduação da PUC/PR.

Veja aqui os livros de Luiz Dellore!


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