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22/07/2021

A pandemia seguramente adiou os planos de estudar fora de muita gente. Mas veja no texto de hoje como a acadêmica Isabelle Marques de Oliveira, do IBMEC, lidou com a pandemia DURANTE seu intercâmbio em Portugal.
E, o que é melhor, ela destaca como, apesar do tumulto, o período foi interessante. E, sem dúvidas, sob vários aspectos, inesquecível!
Boa leitura e saúde a todos. E que os planos de estudar fora logo sejam retomados!

Dellore


*por Isabelle Marques de Oliveira

Um intercâmbio em meio à pandemia

O sonho de realizar um intercâmbio para a Europa foi cultivado desde criança, me lembro de assistir filmes hollywoodianos em que a protagonista vestia um casaco ?, pegava um táxi, com um café da Starbucks na mão e uma pasta com o computador a caminho da faculdade, sempre às pressas. Falava repetidas vezes aos meus familiares que um dia viveria esta cena.

Assim, em agosto de 2019 enquanto cursava o 3º semestre de direito no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), me candidatei ao programa semester abroad, ou seja, viver a experiência de 1 semestre em uma das universidades parceiras da instituição. Dentre todas as Universidade disponíveis para escolha no curso de Direito, optei pela Universidade do Porto.

Uma universidade referência na Europa, tanto para o curso de Direito quanto para Criminologia, em que no ano de 2020 ganhou em segundo lugar no ranking de melhor universidade Portuguesa, de acordo com ARWU WORLD UNIVERSITIES, perdendo apenas para Universidade de Lisboa.

Para este processo, foi necessário o envio do histórico escolar de todos os períodos cursados na faculdade, 2 cartas de recomendação de professores e, por fim, 2 entrevistas on-line, isso apenas para o processo interno entre todos os campi do IBMEC. Assim, foram selecionados 5 alunos para as vagas na Faculdade de Direito da Universidade do Porto.

A partir disso, começou o processo seletivo junto à Universidade estrangeira em si. Como metade dos requisitos para ingresso já tinham sido solicitados pela minha faculdade de origem, não tive muitas dificuldades em juntar toda a documentação. Porém, a demora para conseguir algumas assinaturas quase custou a minha vaga, visto que as enviei no último dia disponível para inscrição.

Todo este trâmite até a tão sonhada carta de aceitação durou cerca de 4 meses. Contudo, apesar de ter sido um processo longo e cansativo, mal sabia eu que o que se seguiria seria a parte mais demorada e estressante.

O próximo passo, então, era tirar o visto e encontrar uma moradia que ficasse em uma boa localização na cidade e que atendesse todas as minhas necessidades.

A demora de aprovação no consulado foi tanta, que apenas consegui chegar à cidade portuguesa em 10 de fevereiro de 2020, enquanto tinha me programado para o dia 25 de janeiro, o que me custou a perda de passagens, bem como o início das aulas e a confraternização dos novos alunos.

Entretanto, ainda tinha muito por vir: havia embarcado para a Europa sem a menor preocupação com relação a uma possível pandemia ou sequer se seria afetada por ela.

Marquei minha entrevista com a reitoria no dia da chegada, no período da tarde. Ao chegar, não tive a oportunidade de sequer desfazer as malas e me habituar na minha nova morada, pois já deveria me apresentar para a reunião com os alunos de mobilidade.

A reunião durou cerca de 2:30h, o principal objetivo era checar se todos os novos estudantes possuíam os vistos corretos e o seguro saúde em dia. Detalhe que os seguros saúde não possuíam cobertura para acontecimentos oriundos de pandemia.

Nesta reunião, ainda apresentaram toda a cidade e formas de locomoção, como tirar o “andante”, o bilhete único de lá, e como receber assistência médica caso fosse necessário. Ainda, foi apresentado o grupo Erasmus, uma organização que eu recomendo fazer parte, pois traz muitos benefícios em restaurantes e atrações, bem como descontos em festas, passagens áreas e no bar Erasmus.

Passaram-se 2 dias para que me apresentasse à reunião com o representante de mobilidade da Faculdade de Direito e Criminologia. Nesta última reunião, foram discutidas todas as regras da faculdade, forma de avaliação e quadro de aulas. Uma curiosidade, a Universidade do Porto apenas possui 1 exame para todo o semestre, havendo a possibilidade de realizar um exame substitutivo apenas se apresentando alguma justificativa formal.

Assim, finalizei todo meu processo administrativo e burocrático para ingressar nessa instituição, a partir desse momento imaginei que seria apenas estudos e viagens pela Europa. Estava maravilhada com toda a cidade e facilidade de acesso a outros países.

Faz-se necessário destacar que, na primeira semana de aula, os alunos de mobilidade podem frequentar todas as aulas de direito e criminologia para se familiarizar com o conteúdo e montar sua própria grade com aquilo que lhes agrade de ambas as instituições. De modo que, o curso de direito e criminologia eram separados, sendo o primeiro tem duração de 3 anos e o segundo, 4 anos.

Nesse contexto, optei pelas seguintes unidades curriculares: direito policial, direito do urbanismo e do ambiente, justiça restaurativa e mediação, criminalidade econômica e crime organizado. A instituição definiu que era necessário realizar no mínimo 24 créditos e máximo 30 créditos por semestre. Cada unidade curricular possui um número de crédito específico. Por essa razão, escolhi 2 unidades curriculares do curso de direito e 2 do curso de criminologia.

Após a escolha formal da grade de estudos, os dois primeiros meses de aula foram inteiramente presenciais, pois até então não havia preocupação do covid-19 na cidade de Porto. Mais aí começaram as notícias da pandemia…

Lembro-me que a faculdade de Braga foi a primeira que decretou que não haveria mais aulas presenciais, sendo aplicadas na forma remota. Em seguida, todas as faculdades portuguesas deveriam seguir este mesmo caminho, sendo que a universidade do Porto e Lisboa foram as últimas a aderirem à nova modalidade de aulas.

E então veio o aviso prévio, de que em 15 dias, haveria o lockdown na cidade inteira. Esse prazo era para que todos pudessem se abastecer e tomar as decisões do que seria feito dali em diante.

Este primeiro período foi de extremo caos, muita incerteza referente à minha situação na minha faculdade de origem caso decidisse voltar, bem como uma massiva falta de alimentos nos mercados principais. Estudantes que moravam em repúblicas foram convidados a sair, devido à grande quantidade de pessoas que moravam dentro dos apartamentos, e esta condição poderia proliferar o vírus. Felizmente, eu havia alugado um apartamento e não possuía colegas de quarto, por isso não tive necessidade de me retirar.

Apesar de os estudantes terem sido convidados a sair, no dia 1º de abril foi decretado o fechamento do aeroporto de Porto, de modo que a única forma de sair do país seria pelo aeroporto de Lisboa. Porém, para chegar até lá seria necessário a utilização do trem ou ônibus – contudo, ao mesmo tempo, o governo decretou que não poderia realizar a circulação entre zonas. Isso significa que estávamos fadados a ficar na cidade de Porto, e para aqueles que ainda tinham a sorte de chegar à Lisboa, as chances de ter o voo cancelado naquele período eram altas.

Nesse cenário complicado, decidi continuar no Porto e terminar meus estudos na forma que fosse possível e disponível.

Por mais que houvesse uma grande dificuldade de adaptação de ensino, acredito que consegui retirar muitos proveitos referente ao sistema jurídico português, bem como de todas as aulas que pude realizar. Em particular, escrevi uma iniciação científica referente a justiça restaurativa em ambiente escolar que foi publicada no site institucional da Universidade do Porto[1].

Em uma perspectiva geral, o maior aprendizado que obtive com o direito português, mais especificamente com as raízes europeias, seria que há um olhar mais humanizado para o direito; essa condição se transparece nas formas de contingência e mitigação de violência, na maior parte das vezes, voltando os olhares para as vítimas. O que demonstra um elevado apreço e simpatia ao ser humano para uma justiça de cura.

Infelizmente, finalizei meus estudos inteiramente na forma on-line. Além disso, considerando o aumento de casos do Covid-19 na cidade, bem como falta de assistência médica, pois meu seguro saúde não tinha cobertura caso eu contraísse a doença, resolvi voltar ao Brasil 2 meses antes do previsto. Mas posso afirmar que isso não me prejudicou de forma alguma na obtenção do certificado de conclusão de curso no período de 1 semestre e da experiência na cidade portuguesa. Apenas ficou uma tristeza por não ter aproveitado melhor as comemorações da cidade e da faculdade.

Por fim, recomendo Porto para qualquer pessoa que pretenda fazer um intercâmbio em um lugar incrível. A faculdade de criminologia especificamente é referência na Europa, com um acervo muito rico de obras com fácil acesso, além de excelentes professores. Um ponto importante também, é a facilidade do idioma e ainda poder aproveitar de uma cidade com uma cultura muito rica.

Posso-lhes afirmar que as lembranças daqueles que decidirem enfrentar um intercâmbio jamais serão esquecidas.

[1] Essa iniciação científica é reproduzida aqui:

http://www.mktgen.com.br/Gen-juridico/justica-restaurativa-isabelle-oliveira.pdf

ISABELLE MARQUES DE OLIVEIRA:  Aluna do 7º semestre do IBMEC/SP, com intercâmbio em Porto/Portugal.

Veja aqui os livros de Luiz Dellore!


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